quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Nossa língua portuguesa.

Padre Antônio Vieira, seu mano Bernardo
e o "Boca do Inferno"
Gregório de Mattos e Guerra

Soneto
que Bernardo Vieira mandou  para seu irmão, Padre Antônio Vieira:

Se queres ver do mundo um novo mapa,
oitenta anos atende desta cepa
por onde ramos a cobiça trepa,
e emaranhada faz do tronco lapa.

Morde com dentes por não ter mais papa;
com língua fere, com as mãos decepa;
soldado e povo livra da carepa,
que na tarde e manhã raivoso rapa;

olhos de água, as faces de tulipa;
cada pé de joanete uma garlopa;
com um só corpo de chalupa.

O bofe muito, e muito pouco a tripa,
é a minha musa; porque nela topa
em apa, epa, ipa, opa, upa.

Resposta

do Padre Antônio Vieira, pelos mesmos consoantes:

Vê, Bernardo, da eternidade o mapa
deixa do velho Adão a geral cepa,
pelo lenho da cruz ao Empírio trepa,
começando em Belém da pobre lapa.

Mais que rei pode ser, e mais que papa,
quem de seu coração vícios decepa;
que a grenha de Sansão toda é carepa,
e a guadanha da morte tudo rapa.

A dor da vida se é na cor tulipa,
de seus anos também se faz garlopa,
que os corta, como o mar corta a chalupa.

Não há mister que o ferro corte a tripa,
se na parte vital o fado topa,
em apa, epa, ipa, opa, upa.

Soneto Por consoantes que me deram forçados
Gregório de Mattos e Guerra, o "Boca do Inferno", entra na conversa:

Neste mundo é mais rico o que mais rapa;
quem mais limpo se faz, tem mais carepa;
com sua língua, ao nobre o vil decepa;
o velhaco maior sempre tem capa.

Mostra o patife da nobreza o mapa;
quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
quem menos falar pode, mais increpa;
quem dinheiro tiver, pode ser Papa.

A flor baixa se inculca por tulipa;
bengala hoje na mão, ontem garlopa;
mais isento se mostra o que mais chupa;

para a tropa do trapo vão a tripa,
e mais não digo; porque a Musa topa
em apa, em epa, em ipa, em opa, em upa.

Padre Antônio Vieira
 (1608-1697), jesuíta, natural de Lisboa, foi o maior orador sacro da língua portuguesa. Passou a maior parte de sua vida no Brasil, deixando 200 sermões e mais de 500 cartas.
Gregório de Mattos e Guerra (1633-1696) nasceu na Bahia, estudou humanidades e direito em Portugal ; advogou em Lisboa; aos 47 anos voltou ao Brasil. É considerado o primeiro escritor de humor e sátiras brasileiro. Aqui, ele mete o bedelho nos sonetos de Bernardo e Padre Antônio Vieira, mostrando sua genialidade.

Textos extraídos do livro "Humor, Humorismo e Paródias", antologia de poesias, versos e poemas famosos coletados por Idel Becker, Editora Brasiliense - Rio de Janeiro,1961, págs. 38, 39 e 41.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Uma Crônica de ANTÓNIO LOBO ANTUNES dedicada a ISABEL JONET (Presidente do Banco Alimentar Contra a Fome)

"Os Pobrezinhos

Na minha família os animais domésticos não eram cães nem gatos nem pássaros; na minha família os animais domésticos eram pobres. Cada uma das minhas tias tinha o seu pobre, pessoal e intransmissível, que vinha a casa dos meus avós uma vez por semana buscar, com um sorriso agradecido, a ração de roupa e comida.

Os pobres, para além de serem obviamente pobres (de preferência descalços, para poderem ser calçados pelos donos; de preferência rotos, para poderem vestir camisas velhas que se salvavam, desse modo, de um destino natural de esfregões; de preferência doentes a fim de receberem uma embalagem de aspirina), deviam possuir outras características imprescindíveis: irem à missa, baptizarem os filhos, não andarem bêbedos, e sobretudo, manterem-se orgulhosamente fiéis a quem pertenciam. Parece que ainda estou a ver um homem de sumptuosos farrapos, parecido com o Tolstoi até na barba, responder, ofendido e soberbo, a uma prima distraída que insistia em oferecer-lhe uma camisola que nenhum de nós queria:

- Eu não sou o seu pobre; eu sou o pobre da minha Teresinha.

O plural de pobre não era «pobres». O plural de pobre era «esta gente». No Natal e na Páscoa as tias reuniam-se em bando, armadas de fatias de bolo-rei, saquinhos de amêndoas e outras delícias equivalentes, e deslocavam-se piedosamente ao sítio onde os seus animais domésticos habitavam, isto é, uma bairro de casas de madeira da periferia de Benfica, nas Pedralvas e junto à Estrada Militar, a fim de distribuírem, numa pompa de reis magos, peúgas de lã, cuecas, sandálias que não serviam a ninguém, pagelas de Nossa Senhora de Fátima e outras maravilhas de igual calibre. Os pobres surgiam das suas barracas, alvoraçados e gratos, e as minhas tias preveniam-me logo, enxotando-os com as costas da mão:

- Não se chegue muito que esta gente tem piolhos.

Nessas alturas, e só nessas alturas, era permitido oferecer aos pobres, presente sempre perigoso por correr o risco de ser gasto

(- Esta gente, coitada, não tem noção do dinheiro)

de forma de deletéria e irresponsável. O pobre da minha Carlota, por exemplo, foi proibido de entrar na casa dos meus avós porque, quando ela lhe meteu dez tostões na palma recomendando, maternal, preocupada com a saúde do seu animal doméstico

- Agora veja lá, não gaste tudo em vinho

o atrevido lhe respondeu, malcriadíssimo:

- Não, minha senhora, vou comprar um Alfa-Romeu

Os filhos dos pobres definiam-se por não irem à escola, serem magrinhos e morrerem muito. Ao perguntar as razões destas características insólitas foi-me dito com um encolher de ombros

- O que é que o menino quer, esta gente é assim

e eu entendi que ser pobre, mais do que um destino, era uma espécie de vocação, como ter jeito para jogar bridge ou para tocar piano.

Ao amor dos pobres presidiam duas criaturas do oratório da minha avó, uma em barro e outra em fotografia, que eram o padre Cruz e a Sãozinha, as quais dirigiam a caridade sob um crucifixo de mogno. O padre Cruz era um sujeito chupado, de batina, e a Sãozinha uma jovem cheia de medalhas, com um sorriso alcoviteiro de actriz de cinema das pastilhas elásticas, que me informaram ter oferecido exemplarmente a vida a Deus em troca da saúde dos pais. A actriz bateu a bota, o pai ficou óptimo e, a partir da altura em que revelaram este milagre, tremia de pânico que a minha mãe, espirrando, me ordenasse

- Ora ofereça lá a vida que estou farta de me assoar

e eu fosse direitinho para o cemitério a fim de ela não ter de beber chás de limão.

Na minha ideia o padre Cruz e a Saõzinha eram casados, tanto mais que num boletim que a minha família assinava, chamado «Almanaque da Sãozinha», se narravam, em comunhão de bens, os milagres de ambos que consistiam geralmente em curas de paralíticos e vigésimos premiados, milagres inacreditavelmente acompanhados de odores dulcíssimos a incenso.

Tanto pobre, tanta Sãozinha e tanto cheiro irritavam-me. E creio que foi por essa época que principiei a olhar, com afecto crescente, uma gravura poeirenta atirada para o sótão que mostrava uma jubilosa multidão de pobres em torno da guilhotina onde cortavam a cabeça aos reis"

Feriadão espichado na companhia dos meus 4 amores lá em Vassouras... 
Éramos 5, lá, há pouco, logo ali... 
Agora tão longe... 
( distâncias doídas meço com régua amazônica).
De volta à casa, que ainda guarda nossas poucas coisas, 
Viro o reloginho de areia... 
Nós e o tempo, de grão em grão,faremos pacientemente o trabalho... 
Até que o dia novo conceda-me a graça de estarmos em nossos "Mil Corações", no meu teko porã há tanto tempo sonhado...
Lá é que fincaremos nossas raízes sobreviventes; 
com elas fundaremos novo tempo, novo reino;
novo lar para os novos seres que haveremos de engendrar.
Graça, é tão somente o que reivindico, oh vida minha!


domingo, 4 de novembro de 2012

Oscar Wilde - Fragmento do poema "Panthea".


(…) Is the light vanished from our golden sun,
Or is this daedal-fashioned earth less fair,
That we are nature’s heritors, and one
With every pulse of life that beats the air?
Rather new suns across the sky shall pass,
New splendour come unto the flower, new glory to the 
grass. (…)

We shall be notes in that great Symphony
Whose cadence circles through the rhythmic spheres,
And all the live World’s throbbing heart shall be
One with our heart, the stealthy creeping years
Have lost their terrors now, we shall not die,
The Universe itself shall be our Immortality! (…)”

LOVE IS ALL


"My Way", interpretada pelo Sinatra, é uma das canções que mais lembra meu saudoso pai, mas acho que só porque eu tinha esquecido de "LOVE IS ALL" que agora me fez chorar de saudade.
Malcom Roberts, venceu um festival com ela e havia uma versão em português que vou pesquisar e se achar compartilho depois.





Love Is All

Yesterday, I knew the games to play
I thought I knew the way life was meant to be
But now there's you
My foolish games are through
Now at last I have found
Just what makes this old world turn around

Love is all I have to give
Love is all as long as I shall live
Take it all
And I'll always be there when you call my name
I know now that love is all.

Every night I long to hold you tight
Until the morning light
Shines into your eyes
Love me now
We'll get along somehow
Won't you please take my hand
And together forever we'll stand
Love is all I have to give





A versão em português cantada pelo Aguinaldo Rayol, um cantor que o C. Guerra adorava!